Como se manteve até hoje uma língua tão arcaica, com maneiras tão subtis, tão educadas de se dirigir ao próximo que, regra geral, não se coadunam com aquilo que é o estereótipo que temos do povo romeno? Novo na forma, estanque no conteúdo, dá que pensar.
Terá evoluído menos a sua língua do que a nossa? Serão mais lentos? Ou será que se pode chamar evoluída a uma língua que perde a delicadeza do trato?
Beijo-lhe a mão, é a saudação que um homem deve dizer quando vê uma senhora. Deve fazer só o gesto e não concluir a acção. A senhora não deve responder, deve apenas agradecer ou acenar. Gosto desta ideia do presente, eu beijo a sua mão, porque é uma senhora. A primeira vez que me saudaram desta maneira foi fora de Bucareste, obviamente. Foi um senhor de meia idade e nessa altura eu ainda não me tinha apercebido do que queria dizer "Sarut mana". Mas só o gesto e a expressão pareciam dizer quase tudo.
Rogo-lhe, é o equivalente ao nosso desenxaibido, por favor, que indicia desde logo que não existe gratuitidade no acto, a partir do momento em que se utiliza a palavra favor. "Va rog" é a forma original e utilizada comummente quando nos dirigimos a alguém e queremos a sua atenção. Em Portugal, tanto quanto me lembro, só rogamos na Avé Maria por nós pecadores.
Não mais que o bem, é a forma que existe de nos despedirmos de alguém, desejo-lhe não mais que o bem. Que maneira sucinta e bonita de dizer aquilo que é realmente importante, desejo-lhe não mais que o bem. "Numai bine" é a forma original. E esta eu estava sempre a utilizar porque a própria sonoridade é apelativa e contagiante.
Depois, tão interessante quanto isto, mas um bocadinho mais triste, é pensar que esta língua não tem tradução para fim-de-semana ou para sala de estar. Weekend e living room usam-se para provar que há muito tempo atrás os romenos não tinham zonas da casa preparadas para o ócio, para estar simplesmente e não usufruíam certamente do gozo do fim da semana.
O mesmo gozo que me permite hoje, em dia de comemoração do centenário da república portuguesa estar a pensar que a república romena foi bem mais austera com o seu povo, que não deixou, no entanto, a doçura que uma língua velhinha usava para adoçar o amargo do sofrimento.