terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dia 13


Para mim, não há nada mais fantástico, mais incrível, mais desafiador, mais estranho, mais intrigante do que ouvir uma língua estrangeira. 
Sempre pensei ter mais facilidade para aprender uma língua do que aquela que eu tenho revelado. Às vezes, ponho-me a ouvir as outras pessoas a conversar, sobretudo no autocarro, no 136 e no 133 que me levam invariavelmente de forma gratuita para o complexo Baneasa. No metro as pessoas não falam, vão em silêncio. Se calhar é porque vão no escuro, não dá tanta vontade de falar no escuro. As pessoas vão-se avaliando mutuamente. Ou então vão distraídas. Ou não gostam de falar num metro que se chama "metrorex". Têm vergonha.
No autocarro, o que eu mais gosto é de ir a ouvir as conversas. Quem conversa nem imagina como o meu ouvir é tão ingénuo, tão duro, não rouba nada, só ouço sons, mas ninguém sabe e isso é bom. Fico a imaginar sobre o que conversam de outra maneira, pelas caras, pelos risos, pelo tom. Percebo 5 ou 6 palavras num discurso e fico a pensar como a língua nos envolve, nos protege, nos separa.
As minhas tentativas de aprender romeno estão votadas ao insucesso. Não falo romeno com ninguém (assim que tento, faço uma misturada pegada que acaba invariavelmente em Inglês, que os romenos arranham muito mal). Acho que aprender uma língua é ensinar também a sua língua. Devia ser uma troca. Tu ensinas-me esta palavra e eu digo-te como se diz em português. Devia ser assim. Quando aprendi a dizer alguns legumes tive vontade de dizer como era em português. Morcov se spune "cenoura" , rosi se spune "tomate". E é tão engraçado, é mesmo dar alguma coisa que não estão à espera.
Uma vez vi um professor português que ensinava alunos de diversos países (Bangladesh, Nepal, Índia) fazendo trocas com eles: os alunos iam ao quadro escrever os nºs na sua língua de origem e o professor tinha de adivinhar.
E, de repente, olho para os fios do telefone diabolicamente enrolados, olho para aquele emaranhado e é assim que me sinto, num meio confuso de outras linhas, que se tocam, mas só por fora. É a metáfora perfeita para as minhas escutas no 136, que quase me embalavam e adormeciam. A confusão é a língua romena e eu sou o emaranhado todo. E depois olho novamente e o resultado é esta imagem. ce tară!  

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