quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dia 9


Gosto de imaginar a geografia da Roménia como a jibóia que engoliu um elefante do Saint-Exupéry e ficou com uma grave escoliose nas costas por causa disso. A escoliose é fácil perceber o que é, são as montanhas (os Cárpados). Depois, a cabeça da jibóia é o delta do Danúbio a fugir para o mar negro e pronto, depois é só imaginar um elefante lá dentro porque cabe mesmo bem.


Mas devo dizer que esta não é a figura de estilo mais adequada para o país. É que a Roménia é tudo menos um elefante branco. É antes um animal que ainda não foi descoberto. E em certa medida até é intrigante como ainda se mantém assim. Para lá das montanhas, a zona da Transilvânia que só no início do século foi assumida efectivamente como parte do país (não me canso de dizer isto) é uma zona quase virgem que alberga ursos, lobos e linces, animais em vias de extinção no nosso país. Na zona do delta do Danúbio a comunidade de aves é enorme. A floresta densa que aqui se mantém é muito o resultado do abandono a que o país esteve votado na longa época do comunismo. Nessa altura, as prioridades do país eram outras: fomentar uma industrialização que já na altura era obsoleta nos restantes países europeus, reduzir a dívida pública, conseguida a custos incríveis a sacrifício de quase toda a população, ter cada vez mais mão-de-obra ao serviço do Estado e adorar um líder esquizofrenicamente obcecado com a sua própria imagem e culto.

E o resultado é este: um país com uma biodiversidade e um potencial turístico quase intocável está à deriva na União Europeia.

E é por isso que gosto de imaginar que este país é um desenho saído de um livro muito sério sobre as coisas mais importantes da vida: o livro de como se aprende a cativar. E acho que este país me vai cativando aos poucos.

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