segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dia 4

Quando a Roménia passou a fazer parte dos planos de trabalho do meu marido, não eram suficientes as idas à FNAC para encontrar os melhores guias sobre o país. O primeiro que comprei e lhe ofereci, até hoje o melhor, da Insight Guides de 2008, faz um retrato bastante justo (fair, em inglês é o termo ideal) do país. No entanto, todos eles se referiam aos "stray dogs of Bucharest", ou seja, aos cães vadios da cidade. Por esta altura tínhamos visto um filme israelita (Waltz with Bashir) sobre um homem perturbado com a guerra no seu país e nos seus sonhos apareciam sempre cães muito ferozes que corriam atrás dele, com os dentes pontiagudos a salivar.


Confesso que a minha noção de stray dogs ficou abalada desde então e a partir daqui imaginava Bucareste uma cidade onde não se podia andar sem nos escondermos de feras musculadas, galopantes, cinzentas, que esta primeira cena do filme retrata muito bem: http://www.youtube.com/watch?v=4BuVyMa_-ms&feature=related


Julga-se que o problema teve origem com a construção maciça no centro da cidade, e por todos os sectores de Bucareste, de enormes blocos de apartamentos que alojaram pessoas que assim deixaram as suas casas e terrenos para melhor poderem colaborar com mão de obra para aquilo que o Estado precisasse. Milhares de pessoas viram-se confinadas a um espaço demasiado contíguo para poderem ter todos os elementos da família (famílias onde o divórcio, aborto e contracepção estavam totalmente proibidos). A escolha natural foi abandonarem os seus cães. Como tiveram de fazer também por total falta de correspondência entre estas exigências e os devidos progressos em cuidados pré-natais e pós-natais com os filhos que nasceram com deficiências ou já vieram tarde demais.
Va urma



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